segunda-feira, 29 de março de 2010

PARABÉNS, CHEFE SILVA!


As primeiras influências que recebi em relação à cozinha foram as da minha família. Foram os cozinhados da minha avó, da minha mãe (poucos, porque ela detesta cozinhar, embora quando o faz o faça muito bem), da minha tia Sady (uma excelente cozinheira). Foram aquelas receitas da família: o pão-de-ló da prima Palmira (nascida em 1800 e tal e que nunca conheci), os biscoitos da Nini, o pudim de laranja da tia Júlia (outra de 1800), o bolo de fécula da tia Laida, as areias de Cascais da prima Mariazinha...

A primeira receita que eu aprendi a fazer sózinha foram os crepes. Aliás, eu era mesmo conhecida pela "menina dos crepes". Devia ter uns oito ou nove anos. Como era uma receita fácil e a única que eu sabia fazer, adorava mostrar os meus dotes culinários e fazer uma montanha de crepes, colocá-los num prato num cestinho e ir oferecê-los a casa de pessoas amigas.
Em relação a esta receita, ainda hoje tenho com ela uma relação um bocado estranha - não a dou a ninguém. E não faço isso em relação a mais nenhuma! Mesmo nos nossos eventos - pois fazemos sempre um momento de show-cooking na altura das sobremesas - a massa dos crepes é sempre feita por mim.

Mas entretanto aconteceu algo muito importante. Lembro-me da minha avó, mãe, tias, senhoras amigas, porque na altura isto era do exclusivo domínio das senhoras (nesta área, aos homens estava apenas reservado o campo profissional), andarem excitadíssimas a comprar uma revista de culinária que tinha saído. Penso que se estava em 1977. E reservava-se a revista nos quiosques, para que não faltasse! Era a tele-culinária do Chefe Silva.
Ainda a tenho, com os volumes encadernados, na minha cozinha, desde o número 1. E estão bem velhinhos os meus livros. Já vão na terceira geração de utilização! Eram da minha avó, passaram para a minha mãe e quando casei a minha mãe deu-mos - porque tinha entretanto herdado os da outra avó. :)

O facto é que nós aprendemos muito e mudamos também muito os nossos hábitos alimentares com o Chefe Silva. Mesmo em relação a ingredientes de que nunca tinhamos ouvido falar ou que nunca tinhamos pensado utilizar. Mas aquilo que eu acho que é o ponto mais forte do seu trabalho é o facto de que as receitas da tele-culinária resultam sempre bem. Mas resultam mesmo sempre bem. Nunca executei uma receita do Chefe Silva que não resultasse. E como devem calcular tenho imensos livros e revistas de culinária e isto é algo que não posso dizer de todos eles. As receitas do Chefe Silva são sempre extremamente bem explicadas e por isso muito fáceis de seguir. Penso que o que levava toda a gente a comprar a tele-culinária não era apenas a novidade das receitas, mas também o facto de saberem que podiam fazê-las porque iam resultar.

Na passada 5ª feira, foram ter comigo num intervalo da "Praça da Alegria" e pediram-me que gravasse uma mensagem de 30 segundos, para dar os parabéns ao Chefe Silva. Fui apanhada desprevenida e bloqueei, não me conseguindo lembrar de tudo o que gostaria de ter dito. Por isso, vim aqui rectificar a minha mensagem.

O Chefe Silva teve uma influência enorme em muitos lares portugueses - influenciou-nos naquilo que comiamos e como o comiamos. E o engraçado é que a sua influência atravessou gerações - a da minha avó, a da minha mãe e a minha. E certamente atravessará muitas mais. E como eu, há de certeza muitos outros portugueses que poderão dizer o mesmo.

Por tudo isto e porque hoje faz anos o Chefe Silva, muito obrigada e muitos parabéns!